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o que fui guardando na memória do gostar ...

março 07, 2011

A morte saiu à rua




A morte saiu à rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome para qualquer fim

Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue de um peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal

E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale

À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim

Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação
 
 
José Dias Coelho  - 19junho1923 - 19dezembro1961


(Canção composta por Zeca Afonso e dedicada ao artista plástico José Dias Coelho, assassinado a tiros, em 19 de Dezembro de 1961. Nesse dia, pelas oito horas da noite, cinco agentes da PIDE saltaram de um automóvel, na então Rua dos Lusíadas e que hoje tem o seu nome, em Alcântara,  Lisboa, perseguiram-no, cercaram-no e dispararam dois tiros. Um tiro à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi disparado com ele já no chão).

(Tema de março - Violência - Fábrica de Letras
 
 
 
 

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1 Comentários:

Blogger Briseis disse...

Tão lindo e comovente! Apesar de a música não ser tua, é um lindo apontamento!

7 de março de 2011 às 15:58  

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